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Na semana passada, li a entrevista concedida, para a BBC de Londres, por uma das mais respeitadas e conhecidas historiadoras contemporâneas, Mary Beard, cujo título é: A masculinidade é o inimigo, não os homens. Uma questão que me chamou a atenção, foi o fato que a entrevistada, mesmo sendo uma feminista reconhecida, inclusive é a autora do livro: Mulheres e Poder - Um Manifesto, reconhece ter feito, mais de uma vez, suposições não adequadas sobre a mulher.
Um exemplo disso foi quando se deparou com a charada que conta a história de um terrível acidente ocorrido com pai e filho, alguém chama a ambulância, mas o pai não resiste e morre no local. O filho é socorrido e levado ao hospital às pressas. Ao chegar no hospital, chamam a pessoa mais competente do centro cirúrgico para atender o ferido, que diz: "Não posso operar esse menino! Ele é meu filho!".
Ao ler essa história, a maioria das pessoas fica com ar de questionamento. Como o menino pode ser filho da pessoa mais competente do centro cirúrgico se o pai morreu no acidente? Diversas teorias e hipóteses são levantadas sobre o fato: a mãe tinha um caso extra-conjugal? Era um casal gay? O pai era adotivo? Qualquer coisa que possa dar sentido ao texto. O que muitos não pensam de imediato é que a pessoa mais competente do centro cirúrgico é a mãe do menino, pois mulheres não são usualmente associadas a essas atividades.
Mary lembrou outra situação em que estava em um avião e chegou o momento em que o piloto foi dar boa tarde aos passageiros e explicar sobre o voo. O anúncio começou, mas a voz era de uma mulher. Por meio segundo, pensou: Por que a aeromoça está fazendo o anúncio? Por que ela não associou que a voz da mulher fosse a do comandante? Tais exemplos são para demonstrar que o preconceito existe em todos nós. Ele possui raízes em um passado que se perpetua ao longo da história da sociedade. Por mais que tentemos negá-lo, ele está lá, gravado no nosso inconsciente. A dificuldade em lidar com o preconceito, seja racial, cultural, religioso, sexual, social, de aparência ou linguístico, envolve o nosso processo (de) formativo e o quanto, desde muito cedo, fomos cegados pelas práticas preconceituosas. Como desconstruí-lo?
O primeiro passo, talvez o mais difícil, seja se reconhecer preconceituoso. O segundo passo importante é manter a cabeça aberta para mudanças, buscando detectar nossos próprios comportamentos e atitudes preconceituosas, para combatê-los. Ler sobre o assunto e ouvir com muito respeito os pontos de vista de quem sofre com discriminação, procurando entender e jamais minimizar as experiências dos outros, é muito relevante. Praticar condutas que rebatam o preconceito, como falar mais sobre as nossas experiências preconceituosas já vividas na família, na escola e em outros espaços onde ele se manifesta, também, é pertinente.
Todavia, o mais importante de tudo é se ver como ouvinte e aprendiz. Um aprendiz de desconstrução, humilde, sem amarras em verdades reproduzidas. O trabalho é diário, pode durar uma vida inteira, pois não tem prazo para acabar. No entanto, precisa ser enfrentado por todos nós, individualmente.